AVB

Discurso em sala de aula para os colegas do Curso de Direito – 8º Período – Ano de 2.006 – Faculdade Universo – Goiânia –GO.

Acorda Brasil

Desculpe por esse nariz de palhaço, mas é que minha indignação com a classe política, e com a falta de indignação da sociedade, chegou ao limite do tolerável, e há muito ando assustado. Não com a violência, as drogas, a corrupção. Com essas atrocidades, infelizmente, há muito já me acostumei.

Ando assustado com o brasileiro. Com o povo brasileiro que está perdendo o senso de nação, de país, de um povo. A capacidade de luta de um povo é medida pelo grau de aceitação das injustiças a que são submetidos. O povo brasileiro, há décadas, vem sendo submetido a injustiças, amparadas em "leis" imorais que formaram uma estrutura gigantesca e sufocante.

Toda sociedade parece viver num sono profundo e não percebe que não adianta votar em "A ", "B", ou "C" , para mudar alguma coisa nesse país. A luta da sociedade tem que ser para mudar a estrutura, não o político, porque com essa estrutura não fará nenhuma diferença votar no político A, B  ou C.

Estamos perdendo a nossa capacidade de indignação. Vivemos num dos paises mais corrupto do mundo, e achamos isso natural. Vivemos num pais com a maior desigualdade social do mundo, e achamos isso natural. Parlamentares roubam, mentem, manipulam, são inocentados e a nossa indignação dura tanto quanto uma rajada de vento, afinal isso tudo parece tão distante de nós.

Mal sabemos que a cada atitude como essa, estamos perdendo nossa identidade como povo, como nação e não somos dignos daquele nosso ancestral que um dia ousou descer das arvores e caminhar ereto, por uma savana desconhecida.

Mal sabemos que com essas atitudes de complacência e indignação cortês, estamos deixando para nossos filhos e nossos netos, não um país uma nação, mas um campo de batalha, onde os princípios mais nobres de um povo estarão anestesiados por décadas de inércia da nossa geração.

Estamos perdendo  nossa ternura e engessando a nossa alma.

Mas porque somos assim? Por acaso nossos genes são diferentes dos genes do resto da humanidade?... Com certeza não. O que ocorre é que estamos tendo a nossa indignação imunizada, geração após geração, por uma vacina chamada "conformismo". Ela vem em pílulas do tipo: “as coisas sempre foram  assim...”;  “não adianta lutar...”;  “isso nunca vai mudar...”; é o que nós repetem  todos os dias, até acreditarmos  e fazer  disso uma verdade absoluta.

Para aqueles que nós repetem essas coisas todos os dias, o Direito, assim como o capim, nasce e cresce naturalmente, não é necessário trabalho e luta para conquistá-Io. Mas para nós, operadores do Direito, como professores, advogados, juízes, promotores,  temos a obrigação moral e ética de alertar esse Brasil moribundo, que para que o direito nasça, não basta ter povo, é preciso ter cidadãos, e que um povo só adquire  respeito, dignidade e auto estima, quando através da vontade, da ousadia e da luta,  faz do direito um instrumento de justiça.  

Nós, operadores do Direito, temos a obrigação de ser o farol desse povo, pois nós, mais do que ninguém, temos acesso ao antídoto que pode mostrar a esse povo, que direito não é capim e que o direito busca sempre a paz, mas o meio de consegui-la, será sempre  a luta, cujo  combustível  chama-se  INDIGNAÇÃO.