NARIZ DE PALHAÇO
Sou o 6º de uma família de nove irmãos e, nenhum deles teve a chance de escolher uma escola, um emprego, uma moradia, um médico. Mas, assim como a maioria absoluta dos filhos deste solo, eles foram escolhidos pelo analfabetismo, pelo sub-emprego, pela sub-moradia, pela subnutrição, pela sub-vida.
Eles fazem parte de um povo sem voz, perdido e esquecido. Esquecido por aqueles que habitam e comandam um outro Brasil, farto em escolas, moradia e saúde. Esse Brasil não percebe que há tempos, o Brasil esquecido, sem voz, bate à sua porta pedindo socorro. Até quando, esse Brasil esquecido, suportará a indiferença desse outro Brasil: rico, farto, opulento e hipócrita!?
Fazemos parte de uma geração perdida, e de um país mercador de ilusões. Este país possui a 12ª maior economia do mundo e ao mesmo tempo a pior distribuição de renda e o mais alto índice de corrupção. Toda a sociedade parece viver num transe permanente e não percebe, que não é só o rei que está nu, o Brasil está nu.
Discute-se tudo nesse país: futebol, novela, carnaval, CPI, caixa dois, operação isso e aquilo e não se discute a mãe de todos os nossos males: a desigualdade social.
Para fomentar a miséria e “legalizar” a corrupção, os políticos criaram no nosso país, ao longo de décadas, uma estrutura gigantesca para que, os que estão no poder, possam roubar “legalmente”. Vejamos algumas dessas aberrações que vigoram no nosso país, que apesar de “legais”, são imorais:
Através dessas estruturas, a corrupção sangra cerca de 53,4 bilhões de reais por ano dos nossos bolsos, isso representa 8 (oito) vezes a média de tudo que foi investido no Brasil, por ano, nos últimos 10 (dez) anos. Estudos de varias entidades, demonstram que se diminuirmos essa sangria, a mortalidade infantil cairia em mais de 50%, cerca de 32 milhões de brasileiros ficariam livres da pobreza e a renda per-capita do Brasil esquecido seria triplicada no prazo de 10 anos.
O nosso problema não são os políticos, e sim a estrutura montada por eles. Não vai ser votando no político A,B ou C que mudaremos esse país. A nossa luta é contra a estrutura que está aí, não contra os políticos. Nenhum país do mundo pode prescindir deles, mas também não pode prescindir de seus cidadãos, e neste momento, o nosso país está carente de cidadãos, carente de sonhadores, que apesar de tudo, ainda ousem sonhar.
No ano de 1999, ganhei um livro, intitulado “ A luta pelo Direito” de Rudolf Von Ihering. Em 2.002 iniciei a faculdade de Direito. Sonhava encontrar uma Faculdade ensinando o Direito, discutindo o Direito, dialogando o Direito, mas o que encontrei foi um quartel com cara de Faculdade: as leis estão aí positivadas, e pronto, é só engoli-las e continuar sendo tocado, feito gado, rumo ao matadouro. Mais importante do que o ensino cientifico do Direito é a promoção do estado de espírito do Direito, pois é dessa energia que o Brasil está carente, e as universidades estão perdendo a oportunidade de plantar sementes de cidadania no fértil coração dos seus estudantes.
É por toda essa ânsia de Justiça, é por esse Brasil sem voz, é pela indignação latente no meu peito, que inicio hoje esse protesto solitário, colocando esse nariz de palhaço sobre o rosto, simbolizando o modo como somos vistos pelos governantes desse país. Será um protesto pacifico e silencioso, mas permanente, como o desejo de viver.
(Fontes:cgu.gov.br/index.htm; presidencia.gov.br/secom/publicidade/midia_gf1_out2005.pdf; Rudolf Von Ihering: A Luta Pelo Direito; noticias.uol.com.br/inter/reuters/2003/12/11/ult729u32060.jhtm; www.pocos-net.com.br/noticia.asp?id+6047; DM 08/01/06 – pág.4; portaltributario.com.br/artigos/corrupcao.htm; http://www.redegoverno.gov.br; O Popular 26/02/06 – pág.9; Revista Veja – 28/04/04)
Valdir L. Queiroz
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